Ás vezes quando escuto, na verdade, indago-me: "e disso tudo, e eu?". E eu que não fiz, que não pude, que não consegui, que até tentei, tentei, quis muito. Mas não deu...por mais desejo, sonho, palavras soltas na porta do guarda-roupas para mentalizar de manhã. Não deu...talvez não dê mesmo. Daí dou um sorriso. Confirmo minha escuta com a cabeça. Mas comigo não...ainda não foi possível. E as horas passam. Os anos também. Já é a metade do segundo tempo. A juventude se esvai. E o verde da esperança se esmaece. E eu:? Não sou a presunçosa egoísta. Mas e de tudo, é preciso haver um "e eu?". Eu sou a moça que tem em si a interrogação cravada no peito e que entulho caixas vazias para solapar a ausência.
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Na vida repetiu-se o movimento daquela tarde. Era setembro, dia de aniversário de minha prima mais próxima e mais querida. Adorava minha prima, mas tinha uma coisa. Sabia que minha avó achava minha prima bonita e eu não. E isso me entristecia, queria também ser fofa. Mas não era...ou tudo levava a crer que não. Era 1984. Minha tia chegara contente com um disco de "Balão Mágico": Simony, Jairzinho, Mike e sei lá mais quem. Era o presente de minha prima. E do alto dos meus cinco anos, veio a pergunta: E eu? Eu não ganharia o disco do Balão Mágico? Eu não ouviria só para mim aquelas músicas. Então, me contentei em rir e dizer "que legal". E sei lá porque...essa cena é uma constante. Eu ainda espero o disco, o amor, a surpresa de uma palavra macia, me sentir a escolhida, o filho, a viagem para um país encantador, o salário justo pelo meu trabalho, o reconhecimento profissional, estar no topo da carreira. Eu ainda não.
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