quarta-feira, 31 de outubro de 2012

De Esperança

Antes de mim mesma, corro para ver minhas plantas. Tornei-me uma moça dedicada a cuidar de uma pequena horta, bem como de um conjunto de vegetais intrusos, que brotaram na minha terra e como sou vira-lata, gosto do inusitado. As plantas intrusas dão pequenas flores e quando chega a noite, ficam alvoraçadas, exalam perfume. Vou deixando que elas fiquem...elas me causam surpresa.
A certeza da minha vitória como plantadora de hortaliças se deu quando o pé de alface vingou - despeito de olhos que achavam que minha horta era toda de equívocos. Ele vingou e posso dizer - só e o comi - que suas folhas são as mais saborosas que já provei. De um verde forte, o sabor amargo, forte forte. O alface é a minha conquista nova: cuidadora.
Antes do meu desjejum, visito minha horta e meio boba, desejo-lhes bom dia. Cato alguma sobra de borra de café e distribuo por entre as terras. Vejo se alguém comeu ovos, quebro a casca e faço a distribuição. O fato foi que a rúcula gostou disso e garantiu folhas bem saborosas. Contudo, uma parte dela parece sofrer de alguma praga...meio esbranquiçada...sei pouco o que fazer. Provei da rúcula...mas sem o mesmo entusiasmo que o alface - a rúcula quer algo de mim, mas não sei o que.
Tentativas frustradas de plantar manjericão. O manjericão é o meu fracasso. Já comprei sementes, já adquiri mudas de amigas, já fiz tentativas de deixa-lo na água, para ver se vinga...nada deu muito certo. Será minha energia meio bagunçada e faz murchar o manjericão? Será que ele quer mais sol? Será que ele quer menos sol? Qual é o problema que o manjericão não resiste a minha presença?
Os tomates são uma promessa: todos os dias eles prometem que virão...mas ainda não vieram. As plantas são garbosas e as maiores da horta...cada dia mais altas e intrincadas...Talvez precise dar suporte para que possam verticalizar-se...no dia que der o primeiro tomate...nem sei...serei mãe boba...chamarei os amigos. Darei uma festa.
Hoje plantei mais sementes de alface, rúcula e calêndula. Também já tenho brotos de coentro e pimenta: mais promessas. Entendo agora porque verde é esperança, é esse carinho nutrido na fé de que virá algo. E quando vem...você sorri e se alimenta. Gosto de ser essa moça que planta suas esperanças e as prova com azeite doce. Ainda sob críticas, cultivo o inesperado...essa semente de sálvia que deu outra coisa...que até hoje não sei quem é...mas só sei que é bonita e procura os céus.
Quem diria que um dia eu gostaria tanto de plantas...

domingo, 28 de outubro de 2012

Borboletas e Peixes

Contei do sonho: as borboletas decidiam deixar de ser borboletas e resguardar-se no mundo dos peixes. Lá mais tranquilas, longe das arbitrariedades do mundo - das mãos curiosas das crianças, da crueldade tosca dos caçadores, das matas sem folhagens. Elas resolviam ser peixes. E deixar pro fundo do mar o mundo do se movimento e colorido.
Mas me indago: por que eu sonho que as borboletas não querem mais ser borboletas e fogem da opressão virando peixes? Sou eu borboleta? Sou eu peixe (fortes indícios).

Raiça e os arranha-céus


Dessemelhante

Cansada das palavras. Inabilidosa com ela para imprimir pensamentos/sentimentos, com a mínima impessoalidade que torna um texto interessante, eis que volto a desenhar. Não habilidosa ainda. Mas pelo menos, expressando - e nutrindo alegria pelo fato de simplesmente criar.

E eu?

Ás vezes quando escuto, na verdade, indago-me: "e disso tudo, e eu?". E eu que não fiz, que não pude, que não consegui, que até tentei, tentei, quis muito. Mas não deu...por mais desejo, sonho, palavras soltas na porta do guarda-roupas para mentalizar de manhã. Não deu...talvez não dê mesmo. Daí dou um sorriso. Confirmo minha escuta com a cabeça. Mas comigo não...ainda não foi possível. E as horas passam. Os anos também. Já é a metade do segundo tempo. A juventude se esvai. E o verde da esperança se esmaece. E eu:? Não sou a presunçosa egoísta. Mas e de tudo, é preciso haver um "e eu?". Eu sou a moça que tem em si a interrogação cravada no peito e que entulho caixas vazias para solapar a ausência.

...

Na vida repetiu-se o movimento daquela tarde. Era setembro, dia de aniversário de minha prima mais próxima e mais querida. Adorava minha prima, mas tinha uma coisa. Sabia que minha avó achava minha prima bonita e eu não. E isso me entristecia, queria também ser fofa. Mas não era...ou tudo levava a crer que não. Era 1984. Minha tia chegara contente com um disco de "Balão Mágico": Simony, Jairzinho, Mike e sei lá mais quem. Era o presente de minha prima. E do alto dos meus cinco anos, veio a pergunta: E eu? Eu não ganharia o disco do Balão Mágico? Eu não ouviria só para mim aquelas músicas. Então, me contentei em rir e dizer "que legal". E sei lá porque...essa cena é uma constante. Eu ainda espero o disco, o amor, a surpresa de uma palavra macia, me sentir a escolhida, o filho, a viagem para um país encantador, o salário justo pelo meu trabalho, o reconhecimento profissional, estar no topo da carreira. Eu ainda não.