terça-feira, 25 de junho de 2013

Gratidão

No meio da vida, constato que não estou vivendo. A vida me deixou em alguma esquina, talvez quando ainda era uma menina. A vida escapou por entre os dedos. Finjo mantêm-lá. Finjo sonhar. Sorrio a gratidão das boas coisas. Sou grata. Embora soluce ainda a perda da vida e a conservação do peso. Sou só triste todas as noites. Sou grata ao amanhecer.

domingo, 2 de junho de 2013

Sem título

Todas as noites sonho a encenação da vida que me escapa: beijo rostos que se esvaem qual vapor de chaleira. Toco mãos que não são. E no soluço desperto do abraço. E a lágrima entende que não há criança alguma em meu colo. Desperta, acostumo com a realidade que se alimenta de sonhos abortados pelo tempo. A solidão é a mais presente companhia desde os tempos das bonecas. A solidão gosta mais de mim que nenhuma outra pessoa. E sinto que por mais que encene todas as noites adentro companhias, nas manhãs invariavelmente, é ela quem me dá bom dia.

Libertando a ausência

Há quase um semestre ausente da escrita. Não da escrita do trabalho, não da escrita do estudo. Mas da escrita que me liberta do que me torna mecânica. Da escrita que devolve a vida tirada pelo livro de ponto, pelo cumprimento do horário e das pautas. Andei meio morta, vivendo as obrigações que me cabem. Pouco criativa e pouco sentida. O poder esvaindo entre os dedos, na medida que não olho para os passos que dou. E nessa vida que esvai pela falta da pulsação do escrever bobo nessa página desartizada, apenas comprometida com a tarefa de dizer coisas cujo sentido me escapa.
E diante da folha em branco, penso que não vou escrever: mas a pura liberdade de poder dizer sem quando, onde, porquê, quem, nem pra quê, obrigam-me a exaltação. A liberdade é minha feliz condenação. E impus-me o silêncio, em detrimento da liberdade, coisa que tanto prezo. Liberto-me assim da ausência. Convoco a prosa, a poesia sem rima, as linhas tortas. Convoco a vontade de libertar todos os gritos e assumo que a vida está no verbo e que ele se faça tenra carne. Amém.