Como acreditar no que não conheço, mas só ouço falar. Mais ainda como ter esperança nesse desconhecido, que com o passar do tempo, torna-se mais e mais desconhecido.
Amor, preciso te ver para te crer.
Para além das minhas sentimentalidades e poesia ruim. Um lugar de compartilhamento de percepções, em prosa clara – em tentativa. Crônicas e comentários sobre esse meu lugar de fala de mulher negra, feminista, artista, cínica e aguda. Quero fazer aqui pontuações sobre observações extraídas do cotidiano. Com ou sem poesia. Mas nada impede, que em paralelo, a Mônica sentimentalista, que escreve sobre seu umbigo dolorido, se manifeste na lírica. Convivemos todas.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Esquina da mágoa
Quando numa noite, no meio de uma gargalhada, cruzando a esquina do deboche, tropeço no poço das mágoas. Disfarçadas com palha, pó de serragem, folhas secas. Machucados os pés. Torcidos os tornozelos. Inchada a circulação sanguínea. Há inflamação em quase tudo.
sábado, 14 de julho de 2012
Categorias - Versão Atualizada 2012
Queridas e queridos leitores,
Já se passam seis anos que escrevi uma parte considerável desse texto, fruto de observação e da conversa com amigas e amigos, formatando algumas categorias de espécimes masculinos. Claro que os homens não são todos iguais. Não, eles podem ser bastante diferentes entre si. E essas próprias categorias existem para fins meramente didáticos e classificatórios, não impedindo que, ao longo das suas experiências e existência, o sujeito transite de modalidade. Assim, considerem esse texto como uma obra didática, que visa auxiliar as mulheres na leitura dos boys-magia ou magia negra com quem estão saindo.
Ao contrário do que poderia se esperar, o criador das categorias primeiras dessa série, não foi uma mulher azeda ou mal humorada. Em verdade, é uma série criada por um homem, auto-denominado cretino. Justamente por conhecer tão bem seus comparsas, o indivíduo foi habilidoso em conceber a classificação que se segue. Em comum, todos eles têm duas características: o fato de serem heterossexuais e terem como objetivo último comer-nos. O que determina a diferença entre eles são as estratégias para alcançar esse objetivo.
Cafajeste: tipo direto, objetivo. Ele não tem muitas estratégicas. Também é o mais simples, descomplicado. Ele quer comer. Ele come. Às vezes, pode levar um tabefe, das mais ingênuas e puritanas. Mas ele é o tipo rústico, que vai direto ao assunto sem muita polidez. Frases como "quero dormir com você hoje", "vamos para um lugar mais íntimo", "eu quero trepar com você" fazem parte do seu repertório. Ele pode variar da sutileza à extrema grossura, mas ele não deixa dúvidas: ele quer te comer. Pode ser que pergunte. Pode ser que vá logo te comendo. Mas, esse tipo antológico é inconfundível e extremamente necessário (afinal de contas ele é bom no que faz, é curto e grosso, o que adianta um dobrado!).
Cretino: esse sim, é o perigo. Perigosíssimo. Ele parece ser sensível, poeta. Vem beija as suas mãos. Diz que você é linda. Ressalta sua beleza, sua espirituosidade, sua inteligência. Puxa papos inteligentes. Diálogos complexos com você. Se mostra interessado nas suas opiniões, nos seus interesses políticos, filosóficos, artísticos. Escreve delicadezas. Pinta coisas belas. Te dá livros. Manda mensagens. Toca canções de Chico Buarque para você. Mas todo esse percurso tortuoso, demorado e devastador tem apenas um propósito: te comer e tão somente. (O que convenhamos é maravilhoso) Muito provavelmente, superado o propósito, cessa a poesia, todo o percurso. Talvez até tenha uma continuidade, mas provavelmente não com o mesmo apelo e intensidade da fase anterior. Normalmente são esses tipos que provocam paixões, amores, dores de cotovelo e outros efeitos colaterais. Melhor ficar longe deles...se puder, é claro.
Filhos da Puta: um cretino com crueldade. Porque se objetivo do homem é comer. O objetivo feminino é ser comida. E se uma coisa que cretinos (melhor até que os cafajestes) fazem bem é te comer. O Filho da Puta vem, beija a sua mão, diz que você é linda. Convida você para ir na Walter da Silveira ver o novo filme de Godard. Entende de poesia concreta. Declama Paulo Leminski. É artista, poeta, cineasta, pintor, intelectual. Fala palavras macias. Fala dos seus seios. Mas saiba, ele não quer te comer e sim te sacanear (há variações que dizem que ele é gay ou um bissexual ainda confuso, mas pra mim, o que ele realmente quer é te escaldar). Diante de qualquer esboço seu que quer ser comida, o filho da puta diz "você confundiu tudo, eu quero você como amigo", "eu tenho um relacionamento", "estou confuso hoje".
Sabonete: Modalidade incorporada na versão 2012 do texto. O homem Sabonete é ótimo. Ele te pega e é geralmente cheiroso, macio, incrível naquilo que faz. Contudo, quando você o procura para acionar de novo, ele escorrega. Quando você pensa que está levando ele para casa, ele já passou para outra mão. Altamente instável, o homem Sabonete chega na festa e não fica com ninguém. Porque pega mal ficar com uma das seis, sete garotas que ele dá manutenção ali, na frente de todo mundo e queimar as outras seis que estão dando mole para ele. Assim, o homem Sabonete nunca recebe mensagens, nunca viu o que você escreveu no Facebook (mesmo quando aparece "Visualizada em"), nem tem muito tempo para ficar mais do que 45 minutos. Porque a vida é acelerada e ele tem que correr para outro lado. Para reconhecê-lo na balada, as frases típicas são "vou dar uma volta", "vou pegar uma bebida, volto já". Se ele já te dá uma manutenção, já deve ter ouvido "essa semana está uma loucura" ou "minha mãe não gosta que eu durma fora".
Contemporâneo: Esse é um tipo maravilhoso e admirável. O homem contemporâneo é para poucos. Porque poucos têm o nível de franqueza e sinceridade que ele tem. O homem contemporâneo assume que não tá fechado. Ele namora, mas a garota sabe que a relação é aberta e ela entra no jogo se consegue bancar. Geralmente, ela também é contemporânea, não é boba nem nada e dá seus bordejos. O homem contemporâneo sabe que a fidelidade não é própria da natureza humana. E ele assume isso. E tolera isso na companheira. O contemporâneo gosta de uma transa múltipla (mais duas, três ou tantas pessoas quanto forem necessárias). Ele é livre. E gosta de pessoas livres. E tudo é muito cartas na mesa. Mas são tipos raros. Os falsos contemporâneos, frequentes no mundo das artes e ciências humanas, gostam de se dizer abertos, mas a abertura é só para eles. Eles pegam várias, mas suas namoradas, esposas e afins, quase nunca sabem de nada. Geralmente, elas vivem num mundo a parte, para justamente não ficar sabendo do nível de "liberdade" do sujeito. Há um tipo piorado que pede relação aberta (porque ele é muderno), mas só para ele. Porque ele quer a licença da marida para ser solteiro, mas ela continua casada e com obrigações de fidelidade. Esse contemporâneo na verdade é um muçulmano infiltrado.
Denorex: Não tem explicação. Não tem muita lógica. Ele é aquele ser em cima do muro. Um dia te beija os pés, declama Vinícius de Morais no seu ouvido. No outro nem te abraça, está um tanto confuso. No outro, dá em cima da sua prima. No outro liga e diz que quer te comer. No outro, te trata como melhor amiga. Aquele tipo que você não entende, não quer entender mais e tem raiva de quem sabe. O mistério do planeta. Ele parece que te ama, parece que não se importa com você, parece que te esnoba, parece que te quer. Mas não, não é nada disso. E saiba, nem ele sabe que porra é. Há grande probabilidade de ser um geminiano safado.
Ameba: Esse dá raiva. Muita raiva. Ele te olha durante tempos. Olha, olha. Você demonstra que quer. Mas ele continua te olhando. Você convida ele para sair. Ele diz que vai trabalhar. Você o encontra na noite. Conversa durante uma hora e ele não faz muita coisa. Quando você se irrita e sai, ele fica te olhando. E te olhando, e te olhando, olhando. Ele quer te comer. Ele quer mesmo. Mas ele é lento. Não sabe como. Tem medo da rejeição e não faz porra nenhuma. Se você está em dias de inspiração e quer comer ele, agarre logo. Se você é tímida e tá gostando dele, minha filha, melhor arranjar outra coisa para fazer. Ele não vai mover uma palha para ficar com você. Embora, suas mãos já devam estar cansadas de tantas diversões solitárias. Sugira para ele uma ida ao psicólogo.
Bem, eu pessoalmente já passei por todos esses tipos. Têm seus sabores e dissabores. A consciência da usuária é muito importante, para o melhor aproveitamento do produto. Essas categorias têm finalidade puramente didática, pois a cada momento e parceira diferente, cada sujeito pode modificar de segmento e forma de abordagem.
Aguardo contribuições.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Cinza negro
Nessa tarde cinza, de tanta chuva, temperatura amena e corpo a corpo com a escrita, uma leitura me inquietou a alma. Irmãs muitas sofrem sofrimento que nem tinha conhecimento que existia igual, lá do outro lado, no continente em que parte do povo que habita esta minha terra veio. E com um nó, pergunto-me se podemos deixar seres humanos amargar a selvageria até a última gota de sangue? E pergunto-me com que mãos podemos mudar o outro, se não aplacamos nossas misérias próprias.
Deus meu é tempo de mudanças, respiro isso em toda parte. Tenho medo. Mas também, agora, com um choro seco, penso que minha fé é a única coisa que tenho. E já que não tenho mãos para mudar o mundo. Que eu trabalhe pelo seu bem. E respire as mudanças que acredito.
Deus meu é tempo de mudanças, respiro isso em toda parte. Tenho medo. Mas também, agora, com um choro seco, penso que minha fé é a única coisa que tenho. E já que não tenho mãos para mudar o mundo. Que eu trabalhe pelo seu bem. E respire as mudanças que acredito.
terça-feira, 3 de julho de 2012
Remendando
Dias de remendar o que esta meio roto: óculos, relógio, amizade, calca, blusa, mãe, dividas, guarda-roupas, o lado de lá,meu coração, o esôfago, os fios dos cabelos, o trabalho, a mãe, os enganos,os flertes, meu espirito. Tempo de cirzir os tecidos rasgados e os afetos maculados. Ajustar minhas ausências e reconhecer o armário cheio. Nao preciso de nada tão novo, mas dar vazão ao muito que já temos. Linha,agulha, memória,, carinho e respeito. Polir pedras escurecidas. Trocar pulseiras. Colar solados gastos. Ressignificar.
domingo, 1 de julho de 2012
Oração
Que meus gestos sejam de afago.
Que meus pesamentos sejam de construção.
Que meus olhos sejam do ver atento.
Que meu tempo seja da ação.
Que meu peito seja da leveza.
Que meus pés pisem com firmeza.
Que os quadris sejam do infinito.
Que meu umbigo seja largo tão logo.
Que minhas mãos sejam do trabalho.
Que meu afeto construa pontes.
Que meu rumo não se perca dos prumos da vontade certa.
Que minha palavra seja semente frutífera de macieiras.
Mais sabedoria, que pecado.
Mais abraço, que risco.
Mais laço, que distância.
Que minha operação seja de soma.
Que minha alegria se compartilhe.
E que eu aceite com candura a alegria a alheia.
O amor alheio.
Que eu crie delicadeza.
E que tudo, tudo, assim seja.
Amém.
Que meus pesamentos sejam de construção.
Que meus olhos sejam do ver atento.
Que meu tempo seja da ação.
Que meu peito seja da leveza.
Que meus pés pisem com firmeza.
Que os quadris sejam do infinito.
Que meu umbigo seja largo tão logo.
Que minhas mãos sejam do trabalho.
Que meu afeto construa pontes.
Que meu rumo não se perca dos prumos da vontade certa.
Que minha palavra seja semente frutífera de macieiras.
Mais sabedoria, que pecado.
Mais abraço, que risco.
Mais laço, que distância.
Que minha operação seja de soma.
Que minha alegria se compartilhe.
E que eu aceite com candura a alegria a alheia.
O amor alheio.
Que eu crie delicadeza.
E que tudo, tudo, assim seja.
Amém.
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