Assusta-me pensar o quão o tempo passou pouco nas bandas da terra onde nasci, assim como para as pessoas de tez mais escura que ergueram esse chão. O tempo parece estagnado e suspenso ainda nas horas barrocas - contradições explícitas e abundantes, retorcidas nos corpos e nos ares.
Nas ladeiras, casas pequenas de antigos garimpeiros, homens endurecidos descem e sobem falando com algo que não se vê. Mulheres oram expulsando inimigos. Igrejas se espalham em cada esquina, sejam elas de cruzes, sejam elas de pastores.
Quase todos os que moram e pouco têm, pretos são. Quase todos que vêm de fora, conquistam mais, brancos são. Lei antiga que muda pouco. Já não brotam diamantes das pedras, alimentando sonhos de mudança, nem mais podem os homens garimpar em busca da riqueza e promessa de vida nova.
O tempo - mais veloz que folhas em queda, de mudanças mais bruscas que as trombas d'água, que quando em vez, alteram a ordem da natureza - parece não ter se alterado, pelo contrário, ainda em suspenso, instala-se nas trouxas de roupas que as negras mulheres carregam sobre a cabeça e equilibram na descida até o rio. E nas mãos lavam peça a peça, secando sobre as pedras.
Uma imagem entre poética e triste: ainda se sustenta família, lavando-se roupas no rio. E há que se suspirar, pois há famílias que pagam outrem para lavar suas próprias vestes, ainda não uma máquina.
O tempo segue estático tanto quanto as pedras ardósia. O tempo permanece, assim como a malemolência dos corpos das negras lavadeiras. Como a rigidez dos que já não garimpam e vivem de tempo.
Como dói!
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