domingo, 12 de agosto de 2012

A pouca crença no masculino: reflexões provocadas pelo Dia dos Pais

Um dia, numa conversa com uma amiga percebi que não admiro mais que cinco homens próximos. Admiro muitas mulheres. Mas quase nenhum homem - homem heterossexual. Sim, pontuo essa diferença, porque a orientação sexual é mais que gostar de meninas ou meninos. Implica em toda uma forma de lidar com o mundo. E admiro muitos muitos muitos homens gays a minha volta. Mas admirar mesmo, raros homens hetero. Cresci numa casa de mulheres. Só com mulheres. Meu pai fez a linha baiano reprodutor. Muitas amantes, muitos filhos, pouca atenção dispensada. Compreendo. Ele próprio não teve a figura do pai e não reconfigurou esse lugar, para ser diferente com seus filhos.
Desde muito cedo, criei a noção - muito negativa e dificílima de reformular - que homem não presta. Não me sentia à vontade perto dos homens ou os achava uma coisa inacessível. Para piorar, durante toda a minha infância estudei numa escola apenas para meninas. Não brinquei com meninos, não soube lidar com eles. Esses dois dados me geraram uma profunda deformação, que leva a hoje, eu ser uma mulher de 33 anos e não lembrar de referências muito positivas de homens - embora tenha amigos e os ame.
O fato é que tenho uma profunda desconfiança dos homens. Não acredito neles. Me atraio. Desejo. Quero tê-los perto. Mas não confio. Nem um pouco. Uso todas as minhas armaduras, pois sei que uma hora ou outra, vira uma rejeição, uma troca, uma grosseria, uma ausência. Nos raros momentos de entrega e escudo baixado, em algum instante, a mente acostumada ao não pergunta: "que horas vai ser que ele vai me rejeitar?".
Ok, terapia né minha gente? Já tentei várias. Já fiz vários exercícios do perdão e de fato, hoje compreendo o ser que foi meu pai. Desejo-lhe bem, embora não consiga visitá-lo no domingo. É demais para mim. O que me irrita profundamente é o fantasma dele impedir eu estabelecer um outro tipo de relação com o masculino, para além da desconfiança. Para piorar, acredito que me atraia por um padrão de homem pouco dado a afetividade - pelo menos comigo, restringindo, então, a relação com o masculino estritamente ao sexo. E isso dói. Porque a sede de uma afetuosidade existe, uma imensa vontade de amar e pela primeira vez na vida ser amada por um homem grita. Mas ainda não consegui mudar o meu campo magnético de "A Rejeitada" para "A Amada". Esforço-me cotidianamente para isso... mas ainda estou longe disso.
Especialmente, porque com o passar do tempo, emergiu um outro pensamento recorrente:  absoluta descrença no amor - embora o desejo dele seja latente. Talvez a descrença seja na possibilidade de eu conseguir ocupar um outro lugar - da querida, da estimada. E depois de tantos desamores, mais que amores, mais do que nunca tenho os pêlos eriçados e a desconfiança máxima. Meu desejo se confunde com raiva. Quero tê-los por perto, mas a tolerância é baixíssima - não tenho mais condições de me deixar ferir, então qualquer ameaça, já estou berrando.
Enfim, muito o que aprender de afeto com o masculino. Mentalizo que seja possível aprendê-lo com urgência. Pois quero tanto...preciso muito. Muito aprender a ser afetada positivamente, sem ser pela mágoa, pelo não. Mas poder abraçar sem medo da entrega.

PS: odeio Dia dos Pais. Mesmo já sendo adulta. Me incomoda as lembranças ruins que provoca. Anseio por ser mãe - tendo um companheiro comigo - para poder ressignificar esse dia. Anseio mais que tudo nessa vida.

Um comentário:

  1. Que texto forte, minha flor. Desejo que um dia vc possa ressignificar tudo isso. Um beijo para acalentar seu coração.

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