terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Cenas da Mestiçagem

Pintura de Caribé, um dos criadores da representação da mulata nas artes visuais do século XX

Cena  1
Praia. Um menino negro brinca com uma menina branca, de cabelos loiros e olhos claros. A família negra sentada na cadeira, aprecia a cena.
Pai afirma com orgulho: - Meu filho é  retado mesmo. Ói lá ele brincando com a loirinha. Repare como a loirinha tá louca por ele. Esse menino é danadinho! Conquistou a loirinha.
A mãe e os tios comemoram e concordam o feito do garoto.

Cena 2
Uma mulher negra assiste ao noticiário. Ela não é uma mulher negra de tez mais escura, o que leva a ter algumas confusões sobre qual é sua raça.
Um cantor famoso da década de 90 aparece na TV e sua trajetória com as drogas é relatada no programa, sua luta sem sucesso para superar o vício.
Diante da imagem da celebridade decadente, um homem negro, ela conclui:
- Negro, quando não caga na entrada, caga na saída.

Cena  3
Numa seleção de modelos, uma profissional foi preterida. Negra de tez mais clara, ela não foi escolhida por não ser o suficientemente preta. Ela se sentiu discriminada. A autora, que vos fala também uma vez,  perdi um trabalho por não ser escura o bastante. O fato foi que lamentei pelo cachê perdido, mas sei que negras do meu tom de pele estão mais frequentemente nas publicidades (nas poucas que temos), nos filmes e telenovelas. Negras mais escuras não estão representadas em lugar nenhum. Não são mulatas o suficiente - e a mídia brasileira só suporta lidar com mulatas - seja lá o que isso for.




2 comentários:

  1. Pois é irmã, em qualquer outra situação aquela fala ia gerar um debate acalorado... incrível como as pessoas são racistas e não se percebem, por ter ascendência direta, entende que não é, mas a fala é recheada de incongruências... realmente lamentável! Da minha parte, qualquer coisa que eu venha a ser preterida em favor de uma negra/negro, será pouco, tamanho foram os ganhos, por parte da etnia a qual pertenço (por falta de melanina e de opção), a custo altíssimo de suor, sangue e lágrimas da nossa ancestralidade africana. Creia, a mim tbém o discurso não desceu... abraço soror!

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  2. Fico demais alegre de ver sua consciência e liberdade. Consciência é coisa sempre rara...

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