Para além das minhas sentimentalidades e poesia ruim. Um lugar de compartilhamento de percepções, em prosa clara – em tentativa. Crônicas e comentários sobre esse meu lugar de fala de mulher negra, feminista, artista, cínica e aguda. Quero fazer aqui pontuações sobre observações extraídas do cotidiano. Com ou sem poesia. Mas nada impede, que em paralelo, a Mônica sentimentalista, que escreve sobre seu umbigo dolorido, se manifeste na lírica. Convivemos todas.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Pai, pai, filho.
A Praça da Sé era bonita. Tinha muito verde e eu andava muito à vontade nela. Ia no riacho que ficava ali perto, banhar-me. Sabe-se lá, na beira do riacho, eis que porto no colo meu filho. Um menino forte, negro e sorridente. E carregava feliz meu menino nos braços - até esse momento, nunca sonhara em ter um filho menino, sempre chamei por uma menina, de cabelos cheios e olhos grandes, que nem eu, pra criar direito e com bem amor próprio. Meu pai me ligava e eu feliz falava com ele. Que estava com seu neto, que ele era forte, saudável e bonito. Que estava tudo bem e eu estava com meu menino no riacho da Praça da Sé. Meu pai ficava feliz e era meu amigo. Queria saber do pai do menino, se era alguém bom e se seria bom para criança. E eu dizia que não tinha problema, meu filho tinha a mim. Mas ali, logo na frente, deitado na pedra se banhando, o homem negro pai do meu filho. E eu desligara o telefone. Ia colocar meu filho no colo do pai. Queria pai pro meu filho. Queria meu filho feliz. E estava. O pai não era meu homem, mas eu o amava de amizade, de carinho - como amo esse homem que existe, mas que com o qual, não tenho filho algum. Ele era bom. Estava feliz com o menino. Eu banhava os dois. E depois ia embora, com meu menino no colo. Eu era feliz com os pais e o filho. Acordei carregando uma criança que não existia perto do meu peito. Peito suspirou.
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