Para além das minhas sentimentalidades e poesia ruim. Um lugar de compartilhamento de percepções, em prosa clara – em tentativa. Crônicas e comentários sobre esse meu lugar de fala de mulher negra, feminista, artista, cínica e aguda. Quero fazer aqui pontuações sobre observações extraídas do cotidiano. Com ou sem poesia. Mas nada impede, que em paralelo, a Mônica sentimentalista, que escreve sobre seu umbigo dolorido, se manifeste na lírica. Convivemos todas.
sábado, 22 de setembro de 2012
Linhagem
Quero - ainda que por agora seja intelectualmente - fazer do meu corpo o manifesto da história dos vários povos que se juntaram para compor minha linhagem. Pelo menos até onde sei. Da índia avó de minha avó pega no mato. Do avô de minha avô que veio da Itália ganhar dinheiro por aqui. Dos nagôs todos que construíram as bases dessa terra. Do meu cabelo cheio cor de fibra do dendê. Do quadril largo de boa parideira que talvez eu possa ser. Da pele preta desbotada pelas misturas. Do nariz grande que meu pai mandava apertar todas as manhãs para eu afilar - mas ele foi mais resistente, não se deixou dobrar. No corpo estão gravadas as marcas de tanta gente, de invasão, exílio, diáspora, migração, mistura. Não quero perder de vista minha linhagem para ser o que não posso. Que o corpo seja a história, a sabedoria. Não mais a castração travestida de beleza.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Todo mundo tem uma história de avó índia que foi pega no mato.
ResponderExcluirEu só queria dizer que tudo isso aqui é muito lindo. Seu texto tem um colorido muito rico e vibrante; há muito tempo eu não lia algo assim.