quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Misoginia que nos une

Embora todos, todos nasçam do nosso ventre, há em cantos do mundo, aqueles que não dirijam sua palavra a mulheres. Há os que acham nosso rosto imoral, cobrindo com véus, impedindo a mobilidade do nossos corpos com longos vestidos fechados e pesados. Há os que extirpam a capacidade das nossas vaginas sentirem prazer, mutilam e maculam para sempre nossos corpos. Há os que condenam nossos cabelos. Há ainda os que violam nossos corpos, transformando-nos em objetos. Do lado de cá há os que pensam que somos atrativo para vender cerveja e decorar cenário de programa humorístico. Há os que não nos querem amamentando em público, se nossos seios não forem como as das modelos da revista masculina. O medo tremendo que sentem de nós, imputa-lhes ódio. Ódio tremendo e nos ferem de toda forma, tolhem a liberdade de todo o jeito. E há os que perguntam por que lutar por direito? Não já foi tudo feito?

Em algumas tribos de países africanos em guerra, o estupro tornou-se um dado banal. Agravado pelo fato de que a mulher violada é considerada como amaldiçoada - não pode conviver na vila. Assim, a mulher não recebe assistência para seus ferimentos, tão pouco apoio e piedade frente à violência a que foi submetida. É deixada num canto, para que morra sozinha. E claro...essa morte não é rápida...é lenta...paciente. A mulher vai morrendo aos poucos, de fome, das complicações pelos ferimentos que não foram curados. 

A vila assiste tudo ao longe e não permite que ninguém se aproxime, nem lhe socorra.

Na Bahia, há continentes de distância, duas jovens foram violadas por um grupo misógeno de pagode. As jovens da brutalidade a que foram submetidas, foram execradas pela mídia e pela opinião pública, que as rotulou com nomes dos mais lastimáveis. De vítimas, como de costume, foram transformadas em algoz dos dez homens que as estupraram: a mulher deseja ser violada, ferida, rasgada, humilhada - é o raciocínio recorrente da humanidade. Os dez homens que feriram as moças foram motivo de manifestação de apoio: elas tiveram o que mereceram. Felizmente, a justiça parece ser um pouco mais sã e mantem os criminosos enjaulados. Mas as jovens mulheres ainda não tiveram devolvida sua liberdade, sua dignidade - diante da humilhação pública e da falta de solidariedade da sociedade e mídia, estão reclusas.

A diferença entre a população que ri e dança pagode em festa da Bahia, não se difere muito da tribo africana, que deixa as suas vítimas morrerem à míngua. 

E os homens querem ser anjo. Oprimem suas mulheres - que não são suas - em nome de Jesus, do profeta, do demônio ou o que o valha. Mas os anjos devem ser piores que os animais. Nenhum gato, leão, porco, cobra pratica canibalismo ou tem o hábito de exterminar quem lhes deu a vida. Se a linguagem nos torna diferente dos animais, a razão não nos tornou melhores.

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