quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A seca

A crueza da seca finalmente atingiu meus olhos com sua contundência radical. O cinzento das pastagens, o rio que não flui, a poeira que engasga o ar, a pele que emudece seu próprio suor. O verde esmaecido luta para ser bandeira, mas não consegue e pede "piedade, piedade, azul do céu sem fim". E engrosso o coro dos cipós retorcidos: "chuva, mulher espirituosa, faz misericórdia, cai sobre nós, enxarca a terra e promete-nos abundância". Ela fecha seus ouvidos, se faz de surda e segue sangrando os pés.
Nada mais triste que a negação da chuva, da umidade, do fluxo. A negação do rio - que não corre, que se evapora. O tempo parado pela poeira que sufoca. A terra e os pés cortados. A lágrima que não cai. A sede silenciosa e seca.

Um comentário:

  1. ... a lágrima que não cai...
    Suas palavras tão sensíveis...
    pela poeira que sufoca...
    atingiu meus olhos
    a seca

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