A crueza da seca finalmente atingiu meus olhos com sua contundência radical. O cinzento das pastagens, o rio que não flui, a poeira que engasga o ar, a pele que emudece seu próprio suor. O verde esmaecido luta para ser bandeira, mas não consegue e pede "piedade, piedade, azul do céu sem fim". E engrosso o coro dos cipós retorcidos: "chuva, mulher espirituosa, faz misericórdia, cai sobre nós, enxarca a terra e promete-nos abundância". Ela fecha seus ouvidos, se faz de surda e segue sangrando os pés.
Nada mais triste que a negação da chuva, da umidade, do fluxo. A negação do rio - que não corre, que se evapora. O tempo parado pela poeira que sufoca. A terra e os pés cortados. A lágrima que não cai. A sede silenciosa e seca.
Para além das minhas sentimentalidades e poesia ruim. Um lugar de compartilhamento de percepções, em prosa clara – em tentativa. Crônicas e comentários sobre esse meu lugar de fala de mulher negra, feminista, artista, cínica e aguda. Quero fazer aqui pontuações sobre observações extraídas do cotidiano. Com ou sem poesia. Mas nada impede, que em paralelo, a Mônica sentimentalista, que escreve sobre seu umbigo dolorido, se manifeste na lírica. Convivemos todas.
... a lágrima que não cai...
ResponderExcluirSuas palavras tão sensíveis...
pela poeira que sufoca...
atingiu meus olhos
a seca