domingo, 20 de janeiro de 2013

Longo diálogo mental (I)

I

Sim, Salvador está num período de profunda decadência. Não sei se está, ou sempre esteve. Estamos há quatro séculos de decadência, desde que o açúcar deixou de ser fonte de riqueza de toda região nordeste. Desde que deixamos de ser capital do Brasil. E se o baiano deixasse de se comparar com o carioca, ou achar que deveríamos ser como São Paulo, veria que quase todas as capitais do Nordeste e Norte são igualmente decadentes. Que a noite de todas as capitais brasileiras é bem menos movimentada que a nossa. Que as pessoas usinam em postes de forma indiscriminada. E que o trânsito é um horror. Eu sei, Salvador está difícil, pra mim também e dizer que a Bahia é linda não resolve nada. Mas também dizer por minuto que Salvador fechou resolve menos ainda. O mundo é uma grande província, com exceção das grandes capitais dos países, especialmente os da Europa que se tornaram bem grandes graças a exploração de continentes inteiros. Assim, poupem-me de comparar Salvador com qualquer capital européia - fomos colônia espoliada, roubada, nao explorador. Não fomos nós os divisores do roubo, mas o roubado. Poupem-me de ouvir que Porto Alegre tem gente bonita e até o gari é gato, em comparação a essa, que é a cidade mais negra fora da África. Se você que reclama por minuto não tem um projeto de mudança e de amor a essa cidade, faça um favor a você e a mim: a Itacimirim  tem na rodoviária ônibus saindo de hora em hora para o Sul Maravilha e apesar da alta das passagens aéreas, o cartão Gol parcela bilhetes em 36 vezes. Quem ficar aqui, nessa terra, no Nordeste, terceiro mundo sim, mas lugar de resistência e força que seja para lutar, pra fazer diferença. Reclamar, mas operar mudanças no raio onde atua.

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