Para além das minhas sentimentalidades e poesia ruim. Um lugar de compartilhamento de percepções, em prosa clara – em tentativa. Crônicas e comentários sobre esse meu lugar de fala de mulher negra, feminista, artista, cínica e aguda. Quero fazer aqui pontuações sobre observações extraídas do cotidiano. Com ou sem poesia. Mas nada impede, que em paralelo, a Mônica sentimentalista, que escreve sobre seu umbigo dolorido, se manifeste na lírica. Convivemos todas.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Espelho de Clarice
Olhando para ela eu me reconheço numa versão dilatada. Ela me diz que é imperioso retirar as muitas camadas de cal que travestem o esquecimento que me forjo. E espelhada em suas linhas reconheço a mulher inquieta, aguda, áspera, medrosa e excessivamente carente. Somos interrogação marcada à ferraduras nas solas dos pés. Sobre nosso ombro direito pesa o mundo, oprimindo a musculatura, inflamando a carne. A dor daquilo que não pudemos mudar e daqueles que não pudemos salvar nos causam cólicas uterinas lancinantes. E silenciosamente a alma grita e para não morrer, jorramos palavra. Eu na minha mediocridade, você, em seu tempo, na sua genial e cruel abundância. E o mundo é cruel e desesperadamente buscamos a alegria apesar de.
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